quinta-feira, 7 de abril de 2016

"todo dia tem hora da sessão coruja"


edu planchêz,
poeta do partido pirata,
mola da vez, 
substância nos seios de meu amor
astucia antártica, os gelos se movem,
as mãos, num redemoinho asteca
( ordenha do que está perto ),
multiplicam-se no barro, na pele,
átrios curvilíneos...
e toda a literatura, nada,
troveja nas tocas,
no hálito que a sorte da areia
expõe aos que caminham por ela

( edu planchêz )

BORBOLETA COR DE MORANGO


ainda posso, ainda tenho o direito de escrever,
de mover a pedra do centro da máquina cabeça
resta-me uma placa, um continente sem nome,
um vulcão adormecido aparentemente;
olho para direita de meus ouvidos,
para a esquerda, para trás e para a frente,
para o inacabado dia
( um está vertido em águia, o outro,
em mil gramas de poeira )
nunca cessa o canto gemido da floresta
dos antigos sonhos de mover nos nossos braços asas
por todo o negro corpo,
por toda a aspereza do ventre da cigarra
despida de tudo,
a borboleta cor de morango se reinventa na flor 

( Edu Planchêz )

figuras


destruo ídolos, figuras de pano,
esqueletos de poeira, 
rastros, vultos trêmulos, 
idéias e pensamentos turvos


( edu planchêz )

PESSOAS PESSOAS


O homem é feito de pensamentos,
de elos pensamentos,
de cadeias de moléculas reflexivas,
de escamas que se colocam sobre escamas,
de ossos e mais ossos
Vou pendurando no ganchos das palavras
meus organismos,
as alegrias e as decepções,
mas não o nunca fazer,
o abaixar a cabeça,
o medo dos que se acham
Um dia meus ancestrais...
atravessaram o oceano
de sal e urina...
para trazerem as linhas
que formam minha pessoa,
meu filho e o filho de meu filho
Não haverá morte para mim,
nem para os que se arrastam
sobre o mundo das chamas
Não haverá morte
para os que provam as fatias do carvão
e as patas das sombras
E o que me negam,
o que fazer?
Longe estou da doença
da ostentação e da perene fama
Meus dias são montanhas,
ruas simples,
pessoas pessoas
( edu planchêz )

os"pretos"


segundo a voz dos "dementes",
os "pretos" nunca deveriam sair da senzala,
mas a maior de todas as senzalas, 
é a senzala espiritual,
a senzala apodrecida dos que desconhecem
a cor dos muitos ventos,
e mergulham na mortalidade das víboras,
no pecado de tudo querer para si

raça ariana de fezes,
claro que voces nos querem
esquartejados numa vala
tal que o fizeram com lorca,
assim são os que se acham coronéis,
filhos de algo superior

( edu planchêz )

palato


a voz manufatura o palato
para a canção
se aproximar do rasgo
que une o planeta ao crânio


( edu planchêz )

domingo, 3 de abril de 2016

um poço

a primeira, a segunda...a oitava...
regra do clube da luta: 
nunca falar do clube,
nunca romper o sono que separa uma palavra da outra,
nunca descer mais que cem metros abaixo
por dentro do que nunca penso,
do que nunca penso,
sei tudo e quase nada,
e penso,
e pensar é cavar nas barras
das canções que gesto
um poço
 

( edu planchêz )

vastos cardumes...

a foda da poesia, da minha poesia...
das carrancas dos herdeiros dos tacapes,
da cromagem que trago
argila na dança dos que se inclinam para o leste,
terra preta que se move no meu passo
o grande poeta aterrado em mim,
nas pencas dos olhos,
na noite em que não morro
enquanto ela tenta dormir
arjuna em tudo que vejo,
guerreiro sem vidraça,
maçã vermelho profundo
ela sabe onde despejo o céu,
o elixir, a espanha e lorca.
o artaud que imagino
em de trás dos montes e alto douro
na gávea do sábio capitão,
eu, sedento de redes,
de proas emergidas.
de vastos cardumes...

 ( edu planchêz )