segunda-feira, 28 de março de 2016

14h50


"o ciume lançou sua flecha preta"
e eu fico me corroendo,
arco que geme e se contorce 
atado a cama, ao precipício
que espécie de anjo
caminha com seus pés de fumaça
sobre as estacas do meu corpo
de víbora e sanhaço?
( edu planchêz )

domingo, 27 de março de 2016

Ouvir é se alimentar


A boca da dor, cala em minha mulher,
em mim, em meu filho, em minha irmã...
na aveludada cozinha do sentimento,
no arroz, no feijão, nas cortinas perfumadas,
no sedento horizonte de nossa poderosa gula
O passo contado do olho vento...
o senegalês turbante que minha ama usa...
para pescar nas linhas da chuva...
Minha ama mais branca que a cor,
mais sonora que o som,
se alimenta com a música
Ouvir é se alimentar,
ela ouve, eu ouço...

( edu planchêz )

pequenas


pequenas estrelas...
para ver minha beleza,
não é preciso abrir os olhos


( edu planchêz )

oficina


no "pano de guardar confete" deposito 
o montante do que andei sonhando,
do que quero, do que movimenta-me
 

( edu planchêz )

em construção IV



"um vale de mil ri quadrados..."
cabem no sentimento desse agora,
e dos outros agoras que virão
"o maha-mandara no céu
e a flor da cerejeira
no mundo humano 
são flores celebradas".
suas palavras se transformavam 
ora em chamas
para atormentar-me, 

ora em espadas que choviam 
do céu sobre mim"

( edu planchêz )

domingo, 13 de março de 2016

A chuva que lavou os olho de Garcia Lorca


( à ama Catarina Crystal)
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Brada Confucio:
"O cavalo alado é o símbolo dos pensamentos
que transcendem os limites do espaço e do tempo..."

E eu choro com medo de tudo,
viro e reviro oráculos,
tremo, penso em lamentar,
estourar as bolhas da lua,
os olhos dos lobos que me espreitam
de dentro de mim,
das minhas alucinações justas

E o homem chegou até esse dia,
a essa noite, e sente medo,
dos fantasmas de poeira,
da rainha sombra que ora em suas costas...
esse homem sou eu,
um ser temido por mim mesmo,
amado pelas correntezas do nobre
e do novo e do velho

Minha fé transcende os relampagos,
os loucos que edifiquei,
as mesmas canções da chuva,
a chuva que lavou os olho de Garcia Lorca
e os panos, as cortinas do teatro, das carroças
de Shakespeare e seus mulambos
Não, não estou na Grã Bretanha,
e estou na Grã Bretanha
de meu próprio inferno,
do carvão entorpecido por medo,
pela droga da serpente de vidro,
pelos pinceis de Rafael,
pelas letras de Gongora,
estou vivo
( edu planchez )

quarta-feira, 9 de março de 2016

TALCRYS


FOX LADY,
pela fartas ruas de Centauro,
tento ser mais poeta que Jimi Hedrix 
e nem poeta sou,
por mais que eu ache "palha"
a letra que o mestre da ardencia
elétrica fez para Foxy Lady,
quem sou para contestar?

Billie Holiday,
por amor ao clima,
ao nosso café de sempre,
a esperança de tuas vestes....
a arte de derreter-se...

( edu planchez )

o gelo que guardo nos pés e nos olhos


estou preparado para morrer...
passei a vida inteira me preparando 
para esse momento,
e me pego com medo, tremulo diante de tal possibilidade...
pergunto-me, 
nessa existencia já tenho a missão cumprida?

"eu não tenho medo da morte, tenho medo de morrer,
porque a morte já é depois, morrer ainda é aqui"

o rio de pincéis, a prisão de gelo,
o gelo que guardo nos pés
e nos olhos

 ( edu planchez )